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Programa de Insuficiência Cardíaca reduz mortalidade e reinternações


 

Cardiologista do HCor
Dr. Felix Ramires, Coordenador do Programa de Insuficiência Cardíaca do HCor

A perda da capacidade do coração em bombear adequadamente o sangue para o corpo é a terceira causa de internação em pacientes acima de 60 anos, de acordocom o DATASUS. Conhecida como insuficiência cardíaca, a doença afeta aproximadamente 4 milhões de brasileiros e a tendência é que este número aumente ainda mais. Com o crescimento da expectativa de vida e os avanços no combate às doenças cardiológicas, as pessoas sobrevivem mais a problemas como o infarto, mas acabam desenvolvendo a insuficiência cardíaca.

Desde que o Programa de Cuidados Clínicos de Insuficiência Cardíaca foi criado, em 2012, houve uma redução de 30% da mortalidade e de 50% das reinternações

Além da evolução de medicamentos, de novos dispositivos e dos transplantes, um aspecto fundamental é a adesão ao tratamento. Um programa de monitoramento de pacientes desenvolvido pelo HCor registrou redução de 30% da mortalidade e de 50% na reinternação. Para conhecer mais sobre os novos recursos no combate à doença, a Revista HCor Saúde entrevistou Dr. Felix Ramires, cardiologista e coordenador do programa de Insuficiência Cardíaca do HCor. “É preciso educar e envolver toda a família, para modificar hábitos de vida e ter uma aderência maior ao tratamento”, destaca Dr. Ramires. Veja a seguir os principais trechos da entrevista.

HCor Saúde – Quais as principais consequências da insuficiência cardíaca?
Dr. Felix Ramires – É uma doença absolutamente endêmica no mundo inteiro. Ela causa um acometimento muito grave do coração, que perde a capacidade de bombear um volume de sangue adequado. Com essa falta de capacidade do coração em fazer o seu trabalho, todo o organismo sofre e os órgãos ficam mal irrigados, provocando uma desorganização do sistema como um todo. Por isso, é uma doença bastante cara de se tratar, limitante, os pacientes perdem a capacidade física e não conseguem mais trabalhar. Isso traz um desequilíbrio familiar e social muito grande. A incidência maior é nos idosos. No Brasil, são registrados, aproximadamente, 300 mil casos novos por ano, e a tendência é o número aumentar.

Por que a incidência da doença tem crescido?
F.R. – Com o envelhecimento da população e os avanços no tratamento das doenças cardiológicas, as pessoas sobrevivem mais a problemas como o infarto, por exemplo, mas acabam desenvolvendo a insuficiência cardíaca. Outro dado preocupante é o aumento dos fatores de risco. São aqueles indivíduos que ainda não têm a doença, mas têm alto potencial para desenvolvê-la, como os obesos, hipertensos, diabéticos e fumantes. Por isso, hoje o foco é na prevenção dessas pessoas. Manter hábitos de vida saudáveis e controlar os fatores de risco são fundamentais para evitar a doença.

Hoje temos alguns dispositivos que substituem parcialmente a função do coração, como os de assistência circulatória implantáveis

Quais foram os avanços no tratamento nas últimas décadas?
F.R. – Tem todo um avanço tecnológico com novos estimuladores, como os ressincronizadores cardíacos, os desfibriladores implantáveis e as novas formas de marca-passo que ajudaram a dar um fôlego, melhorar um pouco a sobrevida e, principalmente, a qualidade de vida dos pacientes. Hoje temos alguns dispositivos que substituem parcialmente a função do coração, como os de assistência circulatória implantáveis. E tratamentos mais avançados, como o próprio transplante, que é uma realidade aqui do HCor. Além disso, o Programa de Cuidados Clínicos de Insuficiência Cardíaca trouxe um ganho com o aumento da adesão dos pacientes ao tratamento.

Como funciona o programa?
F.R. – O programa foi criado para educar, dar informações e envolver o paciente e a família, desde a consulta, internação até o pós-alta. Com uma equipe multidisciplinar de psicólogos, enfermeiros, farmacêuticos, nutricionistas, fisioterapeutas e médicos, ele ajuda a esclarecer sobre a doença e a estimular o autocuidado. Os americanos chamam isso de “power to the patients”, que é compartilhar a responsabilidade do tratamento com o paciente. No pós-alta, um monitoramento por telefone acompanha a situação do paciente. O serviço busca conscientizar sobre a importância de ser parceiro do tratamento, ou seja, de seguir as orientações médicas corretamente. É preciso educar para modificar hábitos de vida e ter uma aderência maior ao tratamento.

Além da evolução de medicamentos, de novos dispositivos e dos transplantes, um aspecto fundamental é a adesão ao tratamento

Quais foram os resultados?
F.R. – Desde que foi criado, em 2012, houve uma redução de 30% da mortalidade e de 50% das reinternações. Aumentou muito a adesão do paciente ao tratamento, tanto o farmacológico quanto a reabilitação, dieta, controle do sal, controle da água etc. Com o programa, o HCor foi o primeiro hospital do país e o quarto no mundo fora dos Estados Unidos a conquistar certificação internacional de qualidade da Joint Commission International (JCI). Recentemente, recebeu a terceira certificação. Este ano também implementamos o serviço no atendimento ambulatorial, fechando o ciclo no hospital, desde a parte preventiva até o transplante cardíaco.