Levantamento do Hospital do Coração revela que dependência psicológica é o principal motivo das mulheres não abandonarem o vício do fumo
De acordo com um levantamento do HCor – Hospital do Coração, em São Paulo, realizado com mulheres tabagistas internadas, cerca de 50% fumam de 11 a 20 cigarros por dia, 17% fumam de 21 a 30 cigarros e 3,3% mais de 30 cigarros. Quanto aos motivos que levaram essas mulheres a começar a fumar, o estudo mostra que 43,3% foram por influência dos amigos, 30% por curiosidade, 13,3% por influência dos familiares e 10% por busca de prazer.
O estudo evidencia ainda a relação da mulher com o comportamento de fumar e mostra que 53,33% mencionam fumar quando se sentem tristes, desanimadas e deprimidas, 76,67% quando estão aflitas, ansiosas, preocupadas ou com medo, 73,33% após as refeições, cafezinhos ou acompanhado de bebidas, 46,67% quando estão irritadas e com raiva e 46,67% quando estão com outras pessoas que fumam.
O tabagismo é a principal causa evitável de doenças e mortes prematuras. Apesar desse dado, os dependentes do tabaco encontram dificuldades importantes para deixar de fumar. Por isso, o Serviço de Psicologia do HCor investe no tratamento para cessação do tabagismo e em pesquisas para compreender o perfil dos fumantes.
“O Programa de Cuidado Integral ao Fumante já teve resultado de 53% de abstinência. Durante o tratamento, o paciente tem o acompanhamento multidisciplinar que envolve médicos, nutricionistas e psicólogos, da reposição de nicotina e medicação quando necessários, à identificação de situações automáticas, pensamentos errôneos e sentimentos associados à dependência do cigarro. O tratamento tem duração de seis semanas consecutivas e acompanhamento trimestral até um ano”, explica Priscila Bueno, psicóloga do Programa Integral ao Fumante do HCor.
O crescimento do tabagismo entre as mulheres
Atualmente, homens fumam quatro vezes mais do que mulheres. Mas enquanto o índice de homens tabagistas estabiliza-se, o número de mulheres fumantes segue aumentando.
O crescimento do tabagismo entre as mulheres traz uma nova preocupação para a saúde pública. Associado a imagem de independência e ao ingresso no mercado profissional, o tabagismo se incorpora diariamente em mulheres cada vez mais jovens. Mesmo as mulheres não fumantes se encontram expostas a fumaça do cigarro em locais públicos, de trabalho ou no próprio ambiente familiar, o que as levam a encarar o tabagismo como um comportamento social normal.
Segundo a psicóloga do HCor, a tendência de crescimento do tabagismo entre as mulheres ao longo das últimas décadas aponta para um quadro nas questões de saúde reprodutiva e nas doenças cardio e cérebro vasculares. Atualmente, as principais causas de morte entre as mulheres são as doenças cardiovasculares como infarto agudo do miocárdio e acidente vascular encefálico. As neoplasias de mama, pulmão, colo de útero e as doenças respiratórias vem em seguida e também podem estar relacionadas ao tabagismo.
“A prática clínica e os estudos relacionados ao tabagismo tem derrubado a crença de algumas décadas de que os prejuízos causados sejam mais intensos nos homens. As mulheres são tão ou mais suscetíveis que os homens aos malefícios do fumo nos aspectos de saúde e nas características próprias como a gestação, a menopausa e o uso de pílulas anticoncepcionais. Além da dependência e dos prejuízos físicos, o cigarro causa dependência psicológica.
Sobre o Programa de Cuidado Integral ao Fumante do HCor
Formado por grupos de cinco a 10 pessoas que se reúnem uma vez por semana, durante dois meses, o programa tem obtido êxitos inéditos. Após início do tratamento, por exemplo, cerca de 80% dos pacientes permanecem em abstinência. Depois de um ano, 60% deles resistem ao cigarro, diminuindo consideravelmente os riscos de doenças cardiovasculares, hipertensão, câncer de diversos tipos, diabetes, entre outros males.
O Programa de Cuidado Integral ao Fumante é um dos trabalhos realizados pelo Serviço de Psicologia do HCor – Hospital do Coração em São Paulo, que há 16 anos atua fortemente na instituição com palestras educativas para jovens e adultos, além do atendimento interno a pacientes do hospital. Ao todo, desde o seu lançamento há 16 anos, já passaram pelo programa mais de 800 pessoas e, após a lei houve um aumento de 40% na procura pelo tratamento.