Novo procedimento reduz riscos de lesões térmicas no esôfago, com monitoramento da temperatura em tempo real
Uma nova técnica do Serviço de Arritmias Cardíacas do HCor (Hospital do Coração) tem demonstrado resultados promissores no tratamento da fibrilação atrial, arritmia que resulta em um ritmo cardíaco totalmente irregular, que era baseado exclusivamente no uso de medicamentos antiarrítmicos, tanto para o controle da frequência, como para o controle do ritmo do coração. Com a evolução tecnológica, foi desenvolvida uma técnica de ablação da fibrilação atrial, por meio do uso de cateter de radiofrequência e, posteriormente, foi associada à reconstrução tridimensional do coração, através de sistemas computadorizados.
Diante dos benefícios que toda tecnologia traz, ela também vem acompanhada de potenciais riscos e limitações. Desta forma, com o passar dos anos, foi observada que a técnica convencional da ablação da fibrilação atrial poderia gerar lesões térmicas (por aquecimento) no esôfago podendo provocar entre outras lesões, a “fístula atrioesofágica” que, apesar de rara, tem alto potencial de gravidade. Para evitar estas lesões térmicas no esôfago dos pacientes, durante o tratamento da fibrilação atrial, o Serviço de Arritmias Cardíacas do HCor desenvolveu, há alguns anos, um recurso para aproveitar a própria sonda do ecocardiograma transesofágico, para produzir o deslocamento mecânico do esôfago para regiões distantes do risco de aquecimento.
De acordo com o cardiologista e responsável pelo Serviço de Arritmias Cardíacas do HCor (Hospital do Coração), Dr. Enrique Pachón, o novo procedimento conseguiu minimizar um problema que acometia frequentemente os pacientes que eram submetidos a ablação da fibrilação atrial: “a lesão térmica no esôfago”. “Durante 10 anos realizamos este novo procedimento em aproximadamente 2500 pacientes do HCor, sem nenhum registro de complicações térmicas relacionadas ao esôfago”, esclarece Dr. Pachón.
Nova técnica: durante o procedimento, a ponta da sonda do ecocardiograma transesofágico tem a possibilidade de ser movimentada, de acordo com a necessidade do médico. Nesta técnica, um termômetro esofágico de múltiplos canais também é inserido no esôfago durante a ablação, e a temperatura é monitorizada em tempo real, próximo ao átrio esquerdo, mesmo após o deslocamento do esôfago, para aumentar a segurança do procedimento.
Segundo o cardiologista do HCor, esta nova técnica de ablação por cateter de radiofrequência demonstrou-se mais eficaz na prevenção de recorrência da fibrilação atrial e muito mais segura, quando comparado ao uso isolado de medicamentos antiarrítmicos e da ablação convencional. “Consequentemente, tornou-se rotina para o tratamento da fibrilação atrial nos principais centros de eletrofisiologia do mundo”, explica.
Por que o antigo procedimento para o tratamento da fibrilação atrial gerava lesões no esôfago? Esta complicação pode ser explicada pela relação anatômica muito próxima entre o átrio esquerdo do coração e o esôfago. A energia (radiofrequência) liberada pelo cateter dentro do coração, para tratar a fibrilação atrial, gera calor. Este calor era transmitido ao esôfago, o que produzia as temidas lesões térmicas esofágicas. “Com o objetivo de evitar esta grave complicação, diversas técnicas foram desenvolvidas para localizar a posição do esôfago, identificar aumentos de temperatura por meio de termômetros e, até mesmo, dispositivos de resfriamento esofágico. Contudo, mesmos essas técnicas desenvolvidas apresentaram registros de lesões esofágicas”, diz.
Reconhecimento: além de ser tema de tese de doutorado pela Universidade de São Paulo (USP), esta técnica foi apresentada no último Congresso Brasileiro de Arritmias Cardíacas (SOBRAC), realizado em Recife-PE, no final do ano passado, e recebeu o prêmio de melhor trabalho científico. “O maior reconhecimento é o sucesso dos mais de 2500 pacientes que se submeteram à ablação da fibrilação atrial no Serviço de Arritmias Cardíacas do HCor, e que não apresentaram lesões esofágicas em decorrência da ablação, resultado superior aos obtidos nos maiores centros dos Estados Unidos e da Europa”, finaliza Dr. Pachón.
Sobre a fibrilação atrial: a incidência dessa arritmia aumenta com a idade, mas pode ocorrer mesmo em pessoas mais jovens. Além do desconforto que provoca no paciente, essa arritmia aumenta a possibilidade de ocorrer um AVC (derrame cerebral). Por esse motivo, muitos esforços têm sido feitos para o seu tratamento definitivo.