A mortalidade de pacientes internados em Unidades de Tratamento Intensiva (UTI) pode reduzir graças a um amplo estudo idealizado e desenvolvido pelo HCor (Hospital do Coração). Com o objetivo de investigar a eficácia de um protocolo contra a SARA (Síndrome da Angústia Respiratória Aguda), principal causa de morte em UTI, e que acomete até 15% dos pacientes sendo fatal para metade deles, o estudo tem a finalidade de aumentar as chances de sobrevida destes pacientes.
O estudo foi batizado de ART ( Alveolar Recruiment Trial) e foram incluídos 1.013 pacientes em 120 UTIs – sendo 105 no Brasil e 15 em outros países como Argentina, Colômbia, Espanha, Itália, Malásia, Portugal, Polônia, Uruguai. Este foi o maior estudo para avaliar tratamentos para a SARA já realizado mundialmente em terapia intensiva.
Além de relevante para a medicina, o estudo coloca a ciência brasileira em outro patamar. Todo o projeto foi idealizado e desenvolvido por pesquisadores do IP (Instituto de Pesquisa HCor), que repassou os protocolos de investigação para centros médicos participantes, inclusive nos outros países. “Assumimos a liderança internacional de uma pesquisa, em vez de sermos apenas colaboradores”, esclarece Dr. Alexandre Biasi, coordenador de pesquisas do IP HCor e responsável pelo estudo.
A SARA é uma inflamação grave dos pulmões, que leva ao fechamento de parte dos alvéolos pulmonares. Assim, a capacidade dos pulmões é limitada, dificultando a respiração e levando metade das vítimas ao óbito. Apenas uma reduzida parte dos pulmões consegue receber o ar, o que é chamado de “pulmões de bebê”. Os pacientes com este problema precisam ser internados em UTI e de suporte de aparelhos de ventilação mecânica para respirar. Para proteger os pacientes e facilitar a recuperação, os médicos devem programar volumes e pressões de ar pequenos no aparelho de ventilação mecânica. “Mesmo quem sobrevive corre o risco de ter sequelas graves, que implicam na perda de mobilidade”, alerta o Dr. Biasi.
Outra estratégia que tem sido usada em adição ao uso de baixos volumes de ar é o recrutamento alveolar e PEEP. No recrutamento alveolar utiliza-se pressões altas durante três minutos com o objetivo de reabrir os alvéolos pulmonares. E a PEEP é um recurso que evita que os alvéolos voltem a se fechar. Esta estratégia tem sido usada mundialmente em várias UTIs e tem sido sugerida por diretrizes médicas. No entanto, não há provas definitivas que mostrem ser útil para melhorar a recuperação dos pacientes com SARA.
O resultado do estudo ART:
O objetivo do estudo ART foi avaliar os efeitos da estratégia de recrutamento alveolar (aumento da pressão de ar) em pacientes com SARA. Para isto comparou-se esta estratégia de recrutamento alveolar em um grupo de pacientes com a estratégia sem recrutamento alveolar em outro grupo de pacientes. Ambos os grupos receberam ventilação protetora com volumes baixos de ar. Os resultados mostraram que a estratégia de recrutamento alveolar pode prejudicar a evolução aumentando o risco de óbito em 20% e de outras complicações pulmonares.
Os resultados do estudo ART serão apresentados na principal sessão do Congresso da Sociedade Europeia de Medicina Intensiva, no dia 27 de setembro, em Viena. E serão publicados simultaneamente no JAMA (( Journal of the American Medical Association). “Os resultados do estudo terão impacto na prática clínica mundialmente, pois devem levar a modificações nas diretrizes para tratamento de pacientes com SARA . Estas devem passar a sugerir que manobras de recrutamento alveolar não sejam realizadas nesta condição. Por outro lado, os resultados do estudo enfatizam a importância de usar baixas pressões e volumes de ar para os pacientes com SARA”, diz.
Para Dr. Biasi, os pacientes com SARA muitas vezes não recebem ventilação mecânica protetora. “A participação no estudo ART tem promovido a correta identificação de casos de SARA e a sistematização do manejo de ventilação mecânica, além de permitir que os pacientes incluídos no estudo recebam ventilação mecânica adequada”, finaliza.
Sobre a SARA:
A SARA é comum entre pacientes internados em UTI e necessita de suporte de ventilação mecânica até a recuperação do paciente, e a mortalidade hospitalar é alta (entre 40 e 60%). Em pulmões normais os alvéolos contém ar. Na SARA parte dos alvéolos colapsa ou se enche de líquidos. Apenas uma parte pequena dos pulmões recebe o ar, por isto, ela é chamada de pulmões de bebê. Para evitar lesões adicionais, atualmente se utiliza baixas pressões e volumes de ar nos pacientes com SARA.
Sua incidência foi estimada em 79 casos por 100 mil habitantes ao ano, com variações sazonais nítidas, sendo mais frequente no inverno. Também se observou que a incidência é crescente com a idade, sendo que chega a 306 casos por 100 mil habitantes/ano, na faixa dos 75 aos 84 anos. A mortalidade da SARA é alta e os pacientes que sobrevivem têm uma permanência prolongada UTI e apresentam significantes limitações funcionais, afetando principalmente a atividade muscular, que reduzem a qualidade de vida e persistem por, pelo menos, um ano após a alta hospitalar.
Fonte: Associação Nacional de Hospitais Privados – ANAHP