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Estudo revela que enxaqueca pode aumentar o risco de doenças cardiovasculares

Estudo revela que enxaqueca pode aumentar o risco de doenças cardiovasculares

Segundo pesquisa realizada com participação da Universidade de Stanford (EUA), casos de enxaqueca pode contribuir tanto com a ocorrência de infartos e derrames, quanto com coágulos sanguíneos e alterações da frequência cardíaca

Desencadeada por gatilhos que vão de luz forte à ingestão de determinados alimentos ou bebidas, a enxaqueca costuma ser temida por causa do imenso mal-estar que provoca. Porém, um estudo recente realizado por pesquisadores do Hospital Universitário de Aarhus, na Dinamarca, e da Universidade de Stanford, EUA, revelou que sofrer com dor de cabeça forte, fotofobia e tontura não é o maior dos problemas de quem precisa lidar com a enxaqueca. “De acordo com a pesquisa, a enxaqueca pode aumentar o risco de doenças cardiovasculares desencadeados por quadros de vasoconstrição (contração dos vasos sanguíneos), como infartos e derrames. Além disso, ainda pode contribuir com a ocorrência de coágulos sanguíneos e alterações na frequência cardíaca”, diz o cardiologista e clínico geral do HCor, Dr. Abrão Cury.

Segundo os autores do estudo, a razão pela qual a enxaqueca pode aumentar o risco de doenças cardiovasculares está relacionada com o fato de que as pessoas que enfrentam o problema costumam utilizar anti-inflamatórios vasoconstritores capazes de potencializar os riscos de doenças cardíacas não só isquêmicos, mas também relacionados com o aumento do ritmo cardíaco de maneira irregular. “Durante as crises de enxaqueca também é comum que os pacientes, principalmente em idades mais avançadas, fiquem imobilizados por muito tempo. De acordo com o estudo, essa imobilização, quando frequente e prolongada, pode aumentar o risco de coágulos sanguíneos, o que é verdade”, explica o cardiologista Dr. Abrão Cury.

Tais constatações foram obtidas por meio de uma coleta de dados do Registro Nacional Dinamarquês de Pacientes durante um período de 19 anos (1995 a 2013). A partir daí, realizou-se uma comparação entre 51 mil pessoas diagnosticadas com enxaqueca e 510 mil pessoas livres do problema. “De acordo com a metodologia do estudo, cada pessoa com enxaqueca correspondeu a 10 pessoas da mesma idade e sexo livres do problema. A idade média para o diagnóstico de enxaqueca foi de 35 anos, sendo que 71% dos participantes eram mulheres”, descreve o cardiologista.

Durante as análises, os pesquisadores descobriram que a enxaqueca realmente estava associada a casos de infarto, derrames, coágulos sanguíneos e ritmo cardíaco irregular. Isso porque, a cada mil pacientes investigados, verificou-se a ocorrência de infarto em 25 dos que tinham enxaqueca e 17 entre os que não tinham. Neste mesmo universo, descobriu-se que casos de AVC isquêmico (coágulo de sangue no cérebro) ocorreram em 45 dos pacientes com enxaqueca e apenas 25 entre os que não sofriam com o problema. “Essas associações persistiram após fatores como índice de massa corporal e tabagismo serem levados em conta. No entanto, nenhuma associação significativa foi encontrada com doença arterial periférica ou insuficiência cardíaca”, acrescenta o cardiologista do HCor Dr. Abrão.

A pesquisa ainda detectou que casos de doenças cardiovasculares, como um todo, principalmente os derrames, ocorreram em maior parte no primeiro ano de diagnóstico de enxaqueca em comparação com os casos de pessoas que sofriam com o problema há mais tempo. Outro dado importante é que, de maneira geral, este tipo de associação entre as doenças afetou mais mulheres do que homens. “Este é um estudo observacional. Portanto, não pode sozinho ser utilizado para determinar causas e efeitos no que diz respeito à relação das doenças cardiovasculares com a enxaqueca. No entanto, trata-se de um levantamento bastante amplo feito dentro um intervalo de tempo muito extenso. Portanto, além de ser significativo, serve para que possamos refletir sobre o problema também em nossa realidade. Afinal, temos alta incidência tanto de enxaqueca, quanto de problemas cardiovasculares”, conclui o cardiologista do HCor.