Horas a fio com a cabeça baixa, os olhos fixos no celular e os dedos deslizando sobre a tela, alternando entre o WhatsApp e as redes sociais. É assim que boa parte das pessoas passa o dia. Segundo mostram as pesquisas, o brasileiro gasta em média 4 horas e 40 minutos on-line nos celulares todos os dias.
O smartphone virou companheiro quase inseparável, vai do banheiro à cabeceira da cama. Mas muito comenta-se sobre os problemas causados pelo uso excessivo e, mais que isso, muitos já sentem no corpo os sinais.
Este ano, a administradora Renea Souza precisou afastar-se do trabalho por duas semanas por conta de uma inflamação no polegar. “Eu passava o dia digitando no computador e à noite ficava horas usando a internet no celular, depois de um tempo começou a doer muito”, conta.
O problema já ganhou nome: “whatsappinite”, um tipo de inflamação nos tendões ocasionada por movimentos repetitivos. De acordo com uma publicação do ortopedista Carlos César Vassalo, da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia Regional Minas Gerais, esse é um problema crescente na sociedade moderna, que pode limitar os jovens nos estudos e em outras atividades.
As consequências causadas pelo uso excessivo de celular não param aí e têm chamado a atenção de ortopedistas, fisioterapeutas e outros profissionais da saúde. Confira alguns pontos que podem ser prejudicados pelo mau uso desses aparelhos:
Dores no pescoço
É comum o usuário inclinar o pescoço para baixo quando está mexendo no celular. E quem passa o dia enviando mensagens, checando o Facebook e lendo e-mails no aparelho pode estar pressionando demasiadamente a coluna cervical e afetando a postura.
Em posição neutra, a cabeça de uma pessoa adulta pesa entre 4,5 kg e 5,4 kg. Quando inclinada para baixo, o pescoço passa a sustentar um peso maior. Segundo um estudo, a força exercida no pescoço de um adulto quando ele está olhando para baixo, pode chegar a 27 quilos. É como se ele estivesse carregando uma criança de 8 anos em volta do pescoço. 4 horas por dia
Além de dores no pescoço, a posição pode causar dores de cabeça, e até hérnia de disco.
Como evitar: eleve o aparelho até que o centro da tela fique na altura dos olhos. Direcione a visão e não o pescoço até o celular.
Dores nas mãos
Os smartphones exigem uso constante das mãos, especialmente ao enviar mensagens de texto e e-mails, ou deslizar as mãos para checar fotos nas redes sociais. Fazer isso constantemente pode causar inflamação das articulações.
Como evitar: procure manusear o aparelho alternando as duas mãos e usar também os indicadores para digitar e rolar o texto em vez de somente os polegares. Tente também ficar um período sem usar o aparelho para dar um descanso para os tendões e as articulações.
Dores no ombro
Segundo o ortopedista Dr. Raphael Marcon, especialista em coluna do HCor, todo o conjunto dos membros superiores acaba afetado pelo uso excessivo. O ombro não foge à regra. “Na verdade, se você força demais uma articulação, a outra acaba tendo que assumir uma postura compensatória que no futuro também vai acabar gerando problemas”, comenta.
Como evitar: procure para manter a postura correta, mais neutra possível, e com os ombros alinhados. O ideal é não usar o aparelho enquanto estiver deitado na cama ou sofá. “Deitado, nem o uso de TV é recomendável”, lembra o ortopedista. Isso porque nessa posição, a pessoa já assume naturalmente uma postura de flexão forçada do pescoço por conta do travesseiro.
Atividades que ajudam a fortalecer a musculatura e exercícios de alongamentos também são indicados. Com o braço esticado, tente trazê-lo todo pra dentro, o máximo possível. Depois faça o mesmo com outro braço. Para alongar a parte posterior, eleve o braço direito, perto da orelha, então, dobre o cotovelo, colocando a mão direita no ombro esquerdo por trás da cabeça.
Dores no punho
Passar muito tempo realizando movimentos repetitivos no celular também pode causar inflamação e dores no punho, que podem inclusive irradiar por toda musculatura próxima.
Como evitar: “É importante ter períodos durante o dia em que você possa ter uma rotina mais saudável, longe do smartphone e incluindo exercícios regulares para compensar esse uso exagerado”, orienta o ortopedista. Um dos alongamentos indicados é estender o punho o máximo com o cotovelo estendido, depois fletir o punho na posição máxima com o cotovelo ainda estendido.
Papada e rugas
Por essa ninguém esperava, mas os especialistas já comprovaram que o uso constante dos smartphones pode favorecer o aparecimento de rugas e papadas. Isso porque a posição inclinada do pescoço faz com que haja uma sobreposição da pele da região, acelera o impacto da gravidade, aumentando as chances de flacidez e aparecimento de rugas na região do pescoço, queixo e parte inferior do rosto.
Como evitar: procure não passar muito tempo com a cabeça inclinada para baixo ao utilizar o smartphone. Adote uma postura mais neutra.
Sono prejudicado
Segundo um estudo da faculdade de Medicina de Harvard, publicado na revista Nature, a luz azul emitida por aparelhos celulares e tablets ativa os neurônios e perturba o sono. Além disso, tem o próprio fator comportamental que deixa nas pessoas a sensação de estarem sempre ligadas e disponíveis, características não compatíveis com o sono.
Como evitar: é preciso mudar os hábitos e manter o celular o mais longe possível da cama, se possível, fora do quarto.
Fonte: Catraca Livre