O que começou como uma doença local, em Wuhan, na China, no final de 2019 e início de 2020, ganhou o mundo e tornou-se uma pandemia mundial, de acordo com a declaração da Organização Mundial da Saúde e desencadeando uma onda de impactos econômicos, sociais, políticos e, principalmente, na saúde, tanto física, quanto mental.
O medo, a preocupação, o estresse e a ansiedade são os sintomas “inesperados” do COVID-19, a mutação do Coronavírus que tem feito um número crescente de vítimas e chegou ao Brasil no início de março. Enquanto as autoridades e lideranças dos sistemas de saúde buscam maneiras de lidar com os atingidos pela doença, outras vítimas secundárias – familiares de (possíveis) doentes, populações vulneráveis, profissionais da saúde e a sociedade como um todo – têm a difícil tarefa de lidar com os aspectos emocionais que afloram no contexto de uma pandemia.
O medo do desconhecido e o excesso de informação
O medo é uma reação natural ao desconhecido. É nossa defesa instintiva frente às ameaças reais ou potenciais vivenciados em nosso cotidiano. Situações como a de uma pandemia tendem a despertar sensações de desamparo e descontrole, que acabam por exacerbar o medo e a insegurança inerentes aos processos de adoecimento coletivos.
O melhor antídoto para tais situações é o conhecimento. A utilização de fontes de informação confiáveis é um meio de tranquilização e reasseguramento frente ao aparente caos que adoecimentos coletivos podem propiciar.
É necessário, contudo, não se deixar bombardear pelo fluxo contínuo e, por vezes, contraditório de dados que chegam até nós cotidianamente, uma vez que isso pode acentuar as preocupações, promovendo mais ansiedade e estresse. As melhores estratégias para obter esclarecimentos incluem:
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- Não busque informações frequentemente. Determine períodos para se atualizar das notícias e cuidado com a hiper informação.
- Selecione canais confiáveis e reconhecidos para informar-se. Procure escolher de 2 à 3 canais de comunicação (portais on-line, jornais, telejornais, rádios…) que são certificados e trazem informações precisas e atualizadas.
- Cuidado com as redes sociais. Cheque as informações antes de retransmiti-las. Nem sempre podemos escolher o que recebemos via whatsapp, Facebook, instagram, Twitter, mas podemos selecionar o que é relevante passar para frente.
- Nomeie seus medos. Conversas sobre seus receios e suas preocupações e o quanto os mesmos são realistas podem ajudar a construir uma perspectiva menos terrorífica da situação e ajudar a adotar estratégias de enfrentamento.
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Distanciamento social x isolamento/exclusão/preconceito
Além da higiene frequente das mãos e evitar o contato da mesma com os olhos, nariz e boca, uma das principais estratégias para contenção da disseminação do coronavírus é o distanciamento social, isto é, evitar contato próximo com muitas pessoas e aglomerações, o que pode levar ao isolamento e até situações de exclusão e estigmatização, principalmente da população considerada vulnerável (crianças, idosos, portadores de deficiências, pacientes com baixa imunidade e doenças crônicas), pessoas doentes e profissionais da saúde.
Com a tecnologia que possuímos hoje é possível manter-nos conectados com a vida e com as pessoas por meio de videochamadas, telefonemas e mensagens, minimizando os sentimentos negativos (por exemplo, solidão e abandono) em relação ao novo contexto social.
Além disso, precisamos estar atentos para:
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- Não ser preconceituoso. Não ataque ninguém de etnias, nacionalidades, faixa etária, condição clínica ou social diferentes da sua, estejam elas infectadas ou não.
- Oferecer ajuda. Pessoas com restrições e limitações podem necessitar de apoio para que suas necessidades cotidianas sejam supridas.
- Ampliar nossa percepção considerando a coletividade. Vivemos em sociedade, em espaços que são compartilhados e o exercício da empatia, estabelecendo normas de convívio saudáveis é imprescindível para o desenvolvimento da solidariedade e apoio mútuo.
- Não rotular os indivíduos atingidos. A OMS defende que se referir a um paciente como “caso de coronavírus” ou à sua família como “família COVID-19” é uma forma de desumanizá-las em uma situação difícil. Em vez disso, procure usar termos como pessoas “que têm COVID-19”, “em tratamento contra a COVID-19” e “se recuperando da COVID-19”.
- Orientar as crianças e ensinar a lidar com as emoções. Os pequenos precisam ficar cientes do que está acontecendo, especialmente se há alguém infectado em casa. Dê uma explicação condizente com a faixa etária deles e mantenha a rotina o mais normal possível. Se seus filhos demonstrarem preocupação, ajude-os a gerenciar suas emoções e a aliviar a ansiedade.
- Ter paciência com os idosos. Ofereça recomendações claras sobre a prevenção da enfermidade e as repita quantas vezes for necessário, sempre de forma calma e respeitosa.
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Atenção à população vulnerável sob a perspectiva da saúde mental
Muito se tem falado sobre as populações vulneráveis à infecção do COVID-19, mas é necessário relembrar que pessoas com vulnerabilidades psicossociais também possuem maior risco de desenvolver ou agravar transtornos psiquiátricos em situações de ansiedade e estresse generalizado, como as geradas pelas pandemias.
Uma atenção especial deve ser dada à população que já possui algum Transtorno de Humor (Transtorno Depressivo, por ex.), Transtorno de Ansiedade (Transtorno de Ansiedade Generalizada, Transtorno de Pânico, Fobia Social, etc.) ou Transtorno Relacionado a Estresse Trauma (Transtorno de Estresse Agudo, Transtorno de Estresse Pós-Traumático, etc.), uma vez que essas são pessoas que tendem a desenvolver pensamentos mais catastróficos, superestimando as ameaças e subestimando os recursos de enfrentamento disponíveis.
Se você inclui-se nessa população ou conhece alguém que é vulnerável do ponto de vista da saúde mental, lembre-se:
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- Evite a vitimização. Mudanças e perdas fazem parte do cenário da vida, mas é possível superá-las.
- Não cultive o pessimismo. Procure ater-se aos fatos e à realidade, buscando enxergar não apenas os problemas, mas possíveis soluções.
- Evite o ócio. A paralização pelo medo ou o desânimo podem contribuir para o aumento dos sentimentos de desamparo e descontrole.
- Procure manter-se ativo. Organize uma rotina de atividades, minimizando as angústias e inseguranças que possam surgir. Atividades manuais, intelectuais e físicas são excelente alternativas.
- Lembre-se que a prevenção está em suas mãos. A higiene frequente das mãos e evitar contatos com olhos, nariz e boca, bem como aglomerações, são tarefas que estão sob nosso controle e bastante eficazes contra a contaminação.
- Cuide-se. Nos períodos de maior estresse, foque nas suas necessidades e envolva-se em atividades que goste e ache relaxante. Se exercitar (mesmo que na sala), ficar com o sono em dia e comer alimentos saudáveis sempre é uma boa.
- Busque ajuda se sentir necessidade. Diversos profissionais e serviços têm-se disponibilizado a atender em regimes especiais (plantões, atendimentos por videoconferências) e estão acessíveis para ajudar no enfrentamento dos aspectos emocionais suscitados pela pandemia.
- Confie! Lembre-se que as autoridades de saúde pública e especialistas do mundo todo estão trabalhando continuamente para garantir os melhores cuidados aos afetados.
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