A doença cardiovascular é a principal causa de morbidade e mortalidade na população feminina. Além dos fatores de risco tradicionais que a maioria conhece, como diabetes mellitus, hipertensão arterial, colesterol alto, dieta inadequada, tabagismo, obesidade e sedentarismo, temos os fatores de risco específicos da mulher: doenças autoimunes, como artrite reumatoide, lúpus eritematoso sistêmico e psoríase (maior prevalência na população feminina), síndrome dos ovários policísticos, tratamento do câncer de mama, distúrbios gestacionais cardiometabólicos, menopausa, depressão e ansiedade (também com maior prevalência entre mulheres).
Já é conhecimento de todos nós que o exercício físico é nosso aliado na busca de saúde e longevidade. Quando falamos sobre saúde cardiovascular na mulher, a prática regular de exercícios ganha um protagonismo fundamental devido aos inúmeros benefícios para o coração. A inatividade física representa um fator de risco significativo e modificável, mais frequente e grave na população feminina em todo o mundo, em todas as faixas etárias.
A disparidade de gênero na atividade física começa cedo na vida e leva a efeitos adversos consideráveis a curto e longo prazo nos resultados de saúde, especialmente na saúde cardiovascular.
Uma revisão sistemática sobre o impacto da atividade e da inatividade física no risco cardiovascular ao longo da vida das mulheres foi publicada recentemente pelo Journal of Clinical Medicine, revelando dados muito importantes e preocupantes ao mesmo tempo.
Os dados de uma coorte prospectiva de adultos dos EUA (63% mulheres) indicaram a associação quase máxima com menor mortalidade alcançável ao completar, durante a idade adulta média e tardia, 150-300 minutos por semana de atividade física vigorosa e 300-600 minutos por semana de atividade física moderada.
Por outro lado, uma forte associação entre exercício físico e o risco de desenvolver doença cardiovascular foi extensivamente descrita em um estudo observacional apoiado pelo National Institutes of Health (NIH) e publicado recententemente no Journal of the American College of Cardiology (JACC). Em uma análise prospectiva de dados de mais de 400 mil adultos norte-americanos com idades entre 27 e 61 anos, constata-se que, ao longo de duas décadas, as mulheres tiveram 24% menos probabilidades do que as que não faziam exercício para experimentar a morte por qualquer causa, enquanto os homens tiveram 15% menos probabilidade. As mulheres também tiveram um risco reduzido de 36% de ataque cardíaco fatal, acidente vascular cerebral ou outro evento cardiovascular, enquanto os homens tiveram um risco reduzido de 14%. O estudo concluiu que mesmo quando mulheres e homens praticam a mesma quantidade de atividade física, o risco de morte prematura é menor para elas.
Existem vários obstáculos à participação das mulheres na atividade física que podem ser divididos em três categorias principais: barreiras econômicas e socioculturais, práticas e de conhecimento. Os obstáculos práticos incluem a pobreza, a falta de recursos financeiros, a escassez de tempo de lazer e a falta de instalações acessíveis, seguras e adequadas.
A declaração da American Heart Association (AHA) sobre a saúde cardiovascular nas mulheres sublinha a importância das intervenções no estilo de vida no “Life’s Simple 7”, uma lista dos sete fatores de saúde mais importantes (dieta, atividade física, não fumar, índice de massa corporal, pressão arterial, lipídios e glicemia), recentemente revisada para “Life’s Essential 8”, incorporando a saúde do sono como a 8ª métrica.
O exercício físico pode neutralizar os fatores de risco cardiovasculares antes, durante e depois da gravidez, de acordo com as evidências mais recentes. Mulheres que se exercitam conforme o recomendado têm um risco 30% menor de desenvolver distúrbios hipertensivos da gravidez, incluindo hipertensão gestacional e pré-eclâmpsia, e apresentam um perfil de risco cardiovascular reduzido na perimenopausa.
A menopausa é considerada um dos fatores de risco cardiovascular não modificável e está associada a um declínio nas concentrações de estrogênio que leva a adaptações cardiometabólicas negativas, aumentando o estado inflamatório. O exercício físico representa uma ferramenta valiosa para contrariar estas adaptações indesejáveis, especialmente se as mulheres se exercitam com um elevado nível de adesão, podendo ajudar a melhorar a densidade óssea, reduzir a gordura corporal e construir massa muscular esquelética.
“Deixo aqui uma mensagem para vocês mulheres: saiam do sedentarismo imediatamente! Precisamos estar empenhadas e comprometidas com nossa saúde e bem-estar. A maioria dos fatores de risco para doenças cardiovasculares são modificáveis e 50% das doenças estão relacionadas ao estilo de vida. Vamos construir saúde!”
Por Dra. Cristina Milagre
Cardiologista e médica do esporte do Hcor