O diagnóstico de uma cardiopatia é assustador em qualquer idade. Quando o paciente ainda nem nasceu, receber esse parecer médico parece ser ainda pior.
Em princípio, essa é uma situação devastadoras para a família, mas por outro lado, é importante saber que a maioria das cardiopatias congênitas tem tratamento.
O diagnóstico pré-natal traz grandes benefícios na evolução do bebê porque permite o planejamento do nascimento e do tratamento, favorecendo a melhor evolução pós-natal, inclusive possibilitando que a criança já nasça no próprio hospital onde ela vai ser tratada adequadamente”, conta a Dra. Simone Pedra, cardiologista fetal do HCor.
Procedimentos para tratar a cardiopatia congênita
Embora os números pareçam alarmantes, uma vez que as cardiopatias congênitas estão entre as malformações mais comuns – apresentam incidência estimada em 1 a cada 100 gestações e sejam responsáveis por cerca de 10% dos óbitos infantis e metade das mortes por malformações congênitas –, a tecnologia e os recursos humanos estão à favor dos bebês. “Os procedimentos intrauterinos são realizados apenas para algumas doenças específicas, e têm 3 objetivos principais: resgatar ventrículos que correm o risco de evoluir para hipoplasia, isso é ficar muito pequeno e perder a função, proteger a circulação dos pulmões contra alterações irreversíveis e tratar a falência cardíaca de fetos com anomalias da válvula aórtica que leva sangue para o corpo e que pode levar a inchaço no bebê e óbito fetal. A boa notícia é que as chances de sucesso do procedimento fetal, quando realizado por um grupo experiente, são de 90% a 95%”, tranquiliza a cardiologista.
“Por isso, quando nos deparamos com um caso que se beneficia do tratamento fetal, nós sentamos, explicamos detalhadamente aos pais como é a doença e o que está acontecendo no coração do bebê. O tratamento intrauterino é extremamente invasivo, uma vez que necessita fazer uma punção no próprio coração da criança através da barriga da mãe. Mas as chances de sucesso são muito altas”, conta Simone que é a responsável por conversar com os pais para que eles decidam se vão ou não autorizar o procedimento antes do nascimento do bebê.
Ainda segundo ela, os médicos explicam também como é feita a intervenção – através de um pequeno furinho no ventre materno pelo qual é introduzida a agulha –, o que se espera do resultado e a possível evolução do bebê. “Também explicamos os riscos e o que pode acontecer se o procedimento não for feito”, afirma e exemplifica: “na estenose aórtica crítica, por exemplo, em alguns casos se nada for feito, o bebê vai ficando inchado e pode falecer. Então, a gente abre a válvula e esses nenéns, incrivelmente, quase que renascem. Além de salvar o feto, o objetivo é proporcionar que o coração, depois que o bebê nascer, funcione com suas quatro câmaras, como um órgão normal”.
Intervenção cardíaca fetal
Veja como é feita uma intervenção cirúrgica invasiva em um bebê com cardiopatia fetal:
* Para que o bebê não sinta dor ou movimente-se, uma solução anestésica é injetada no cordão umbilical ou na perninha do bebê.
* Nesse procedimento, uma agulha é introduzida na barriga da mãe e, após atingir a cavidade uterina, é direcionada para o tórax do bebê até o interior do coração.
* Quando a agulha é posicionada no local desejado, um balão é introduzido através da agulha e insuflado através da estrutura a ser dilatada.
* O monitoramento do procedimento é feito pelo ultrassom e garante a precisão da intervenção, que tem como objetivo restabelecer as funções do ventrículo acometido do coração do bebê.
Cardiopatias fetais
As cardiopatias fetais mais comuns são as que afetam o lado esquerdo do coração. “Uma doença que é bastante comum e, infelizmente, bastante grave, chama-se Síndrome da Hipoplasia do Coração Esquerdo (SHCE). Além dela, temos as estenoses pulmonares, as estenoses aórticas, a transposição das grandes artérias e as atresias da valva pulmonar”, explica Simone que, além de cardiologista, é coordenadora da Unidade Fetal do HCor.
Só existe uma ferramenta para a avaliação do coração do feto: o ecocardiograma fetal, que nada mais é que um ultrassom do coração do bebê realizado por um especialista. Ele deve ser feito a partir da 18ª semana até o final da gestação e pode identificar a grande maioria das anomalias fetais que tenham qualquer impacto na evolução da criança, seja ainda na vida fetal ou depois do nascimento.
“Quanto aos procedimentos fetais, normalmente fazemos em idades gestacionais que vão de 22 semanas até 30. O mais comum é trabalhar entre 25 ou 26 semanas, mas quando é necessário podemos fazer mais cedo”, diz a médica.
Vale a curiosidade: quando se opta pela intervenção, a mãe recebe uma anestesia semelhante àquela que é feita para uma cesariana e, em seguida, o feto é anestesiado com uma injeção de sedativos, dada normalmente na coxa do bebê, para que ele durma e pare de se mexer. “É impossível fazer os procedimentos com o bebê se mexendo”.
Para saber mais sobre prevenção de cardiopatia congênita assista à esse vídeo de HCor Explica:
Quais doenças podem ser tratadas via cirurgia fetal:
* Estenose aórtica crítica.
* Estenose pulmonar crítica ou atresia da valva pulmonar.
* Hipoplasia do coração esquerdo com comunicação interatrial restritiva.
Benefícios:
* Evitar insuficiência cardíaca grave.
* Permitir que o ventrículo abaixo da valva entupida volte a crescer.
* Melhorar as condições de nascimento de bebês com condições cardíacas muito graves.
No HCor
Referência em cardiopatias congênitas, o HCor possui uma Unidade Fetal. Ela foi criada para que o bebê possa nascer já no ambiente que ele vai ser tratado, e não tenha que sofrer com o transporte entre hospitais, o que pode piorar seu estado de saúde.
“Nesses casos os partos normalmente são cesáreos programados, e o bebê já é acolhido pela equipe de cardiologia e encaminhado para a UTI neonatal para seguir o tratamento previsto e planejado durante o pré-natal. A grande vantagem do HCor em relação às demais maternidades é que, por se tratar de um hospital cardiológico, detém toda a infraestrutura e equipe de profissionais específicos para tratar pacientes com doenças no coração. A Unidade de Internação Neonatal é especificamente cardiológica, só atende bebês cardiopatas, sendo a equipe formada essencialmente por cardiologistas pediátricos. Sendo assim, o grande diferencial do nascimento dentro do HCor é ter toda a estrutura voltada para o atendimento cardíaco especializado”, explica Simone.
Dentro dos projetos de filantropia do HCor dispomos de uma parceria com o Ministério da Saúde para atendimento de gestantes cujos fetos têm diagnóstico de cardiopatia. Através da central de regulação nacional de alta complexidade (CNRAC), recebemos gestantes do SUS de qualquer região do País cujos bebês necessitem de tratamento especializado cardiológico logo após o nascimento, seja pelo cateterismo terapêutico ou pela cirurgia. Através desse programa, a gestante recebe transporte e casa de apoio. Fazemos o ecocardiograma fetal para confirmação do diagnóstico, avaliação com as equipes de enfermagem, psicologia, nutrição e obstetrícia. O parto é realizado dentro do HCor e o bebê recebe todo tratamento necessário até a alta hospitalar”, finaliza.
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