A evolução no combate ao câncer
Os avanços científicos e tecnológicos imprimiram novas perspectivas no enfrentamento da doença, proporcionando mais qualidade de vida para o paciente oncológico
Na última década houve uma evolução impressionante tanto no diagnóstico quanto no tratamento de casos oncológicos. Os avanços científicos e tecnológicos imprimiram uma nova perspectiva no combate ao câncer. Identificação precoce de tumores, novos medicamentos, imunoterapia, marcadores moleculares e a cirurgia minimamente invasiva fortaleceram de forma expressiva o arsenal terapêutico contra a doença. Hoje em dia, vive-se mais e melhor.
“A sobrevida de vários tipos de câncer aumentou muito com os novos tratamentos, de forma que alguns pacientes agora podem ter seus tumores controlados por longos períodos de tempo e com excelente qualidade de vida”, afirma o oncologista do HCor, Dr. Auro Del Giglio.
A sobrevida de vários tipos de câncer aumentou muito com os novos tratamentos, de forma que alguns pacientes agora podem ter seus tumores controlados por longos períodos de tempo e com excelente qualidade de vida
Esta nova perspectiva no enfrentamento do câncer surge como um alento diante das estatísticas preocupantes sobre o avanço do número de casos da doença. Só neste ano, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) projeta o registro de 600 mil novos casos, sendo os mais incidentes pele não melanoma, próstata, mama, intestino e pulmão, respectivamente.
Um alerta importante é que cerca de 30% dos casos poderiam ser evitados com a adoção de um estilo de vida saudável, que exclua fatores de risco como tabagismo, consumo de álcool, sedentarismo, obesidade, alimentação rica em gordura animal, entre outros.
“Algumas atitudes são muito proveitosas para evitar o desenvolvimento de vários tipos de câncer como, por exemplo, controlar a exposição excessiva à radiação solar para cânceres de pele, eliminar o cigarro para reduzir a incidência de cânceres de pulmão, cabeça e pescoço e de bexiga. Recomenda-se ainda uma dieta balanceada rica em fibras, verduras e frutas e pobre em embutidos além de atividade física e manutenção do peso corpóreo para evitar a obesidade”, esclarece Dr. Del Giglio.
No campo diagnóstico, a identificação cada vez mais precoce de tumores vem promovendo avanços expressivos no controle da doença. “Alguns desses avanços estão relacionados a desenvolvimentos tecnológicos com equipamentos que permitem detecção de lesões cada vez menores, permitindo com técnicas específicas detectar focos de comprometimento do câncer em estágios iniciais”, afirma Dr. Carlos Alberto Buchpiguel, superintendente médico do HCor. “O ultrassom, a tomografia computadorizada e mesmo a ressonância magnética são métodos que detectam o câncer pelas características estruturais e anatômicas, como dimensão, densidade, forma e textura do órgão ou tecido acometido pela doença. Já o PET/CT consegue avaliar com precisão a parte funcional, ou seja, se há atividade metabólica dentro do tumor”, acrescenta.
PRÓSTATA
A incidência do câncer de próstata estimada pelo INCA em 2017 está em torno de 60 mil casos novos. Trata-se do segundo tumor mais frequente entre os homens, ficando atrás apenas do câncer de pele.
Geralmente, o câncer de próstata é assintomático. Em fases muito avançadas, o paciente pode apresentar dificuldade para urinar, sangramento na urina e sintomas decorrentes da neoplasia avançada, como insuficiência renal e dores ósseas. Estima-se que quando os sintomas começam a aparecer, 95% dos casos já estão em fase adiantada. Com o avançar da idade, a incidência da doença aumenta, atingindo 80% dos homens com mais de 80 anos. Quando o tumor é diagnosticado precocemente, ou seja em estágios iniciais e restrito à próstata, a probabilidade de cura atinge 90% dos casos.
“Pessoas com antecedentes familiares de neoplasia prostática e raça negra tem maior predisposição e devem iniciar o check-up prostático já aos 40 anos. Para o restante dos homens, pode-se começar a investigação entre 45 e 50 anos”, afirma o urologista do HCor, Dr. Antonio Correa Lopes Neto. Este check-up consta da dosagem do PSA (antigeno prostático específico) no sangue e exame de toque prostático visando avaliar consistência e presença de nódulos na glândula. “Normalmente, solicita-se também ultrasonografia das vias urinárias e próstata”.
MAMA
Depois do câncer de pele, o câncer de mama é o mais diagnosticado na população feminina em todo o mundo. Em média, 1 em cada 8 mulheres desenvolverá a doença ao longo da vida. “O diagnóstico precoce é o principal fator que influencia na cura. Os casos iniciais têm sobrevida muito boa, acima de 95% em 5 anos”, afirma Dra. Ana Maria Massad, mastologista do HCor.
O rastreamento, com mamografia anual, deve ser iniciado aos 40 anos para todas as mulheres da população geral. Para mulheres com risco aumentado, esta idade pode ser antecipada para os 30 anos, mas vale consultar um especialista.
Apenas 10% dos tumores são considerados hereditários e 10% a 15% possuem história familiar positiva. A prevenção efetiva do câncer de mama pode ser feita modificando variáveis da rotina da maior parte das mulheres como: evitar a obesidade (Índice de Massa Corpórea-IMC acima de 25), evitar ingestão de álcool (mais que 1 dose por dia aumenta o risco em até 20%), evitar exposição muito prolongada a hormônios sintéticos, principalmente na pós-menopausa, realizar exercícios físicos (a partir de 3h de exercícios por semana apresentam efeito protetor) e ter uma dieta rica em fibras (reduz o risco em até 10%).
O tratamento do câncer de mama é multimodal, isto é, utiliza-se vários recursos para tratá-lo, como cirurgia, radioterapia, quimioterapia, endocrinoterapia e a imunoterapia ou terapia-alvo. “A escolha do melhor tratamento vai depender da carga tumoral (estágio da doença definido pelo tamanho do tumor, comprometimento de linfonodos axilares e regionais, metástases à distância, fatores prognósticos) e da biologia tumoral (perfil molecular do tumor)”, afirma Dr. Afonso Celso Pinto Nazário, mastologista do HCor.
“É importante que as mulheres fiquem sempre atentas a sua saúde. Façam sua mamografia anualmente e consultem seu mastologista. O câncer de mama hoje em dia é uma doença com tratamentos avançados e com muito boas chances de cura”, alerta Dra. Ana Maria.
APARELHO DIGESTIVO
O tratamento do câncer do aparelho digestivo evoluiu consideravelmente ao longo da última década. Tecnologias emergentes de imagem e métodos endoscópicos/laparoscópicos melhoraram a capacidade de avaliação da doença, aassim como as intervenções terapêuticas.
“Houve melhor compreensão do papel do tratamento cirúrgico dentro do conceito de tratamento multimodal. A avaliação funcional dos candidatos à cirurgia melhorou a indicação e a qualidade da operação e, posteriormente, a qualidade de vida e maior sobrevida dos pacientes oncológicos”, afirma Dr. Ulysses Ribeiro, Coordenador do Serviço de Cirurgia Oncológica do HCor.
Do ponto de vista diagnóstico, diversos foram os avanços da endoscopia digestiva durante os últimos 10 anos. A evolução mais importante neste setor foi no campo de tratamento de lesões precoces. A chegada da técnica conhecida atualmente por ESD (Endoscopic Submucosal Dissection) possibilitou a ressecção de lesões benignas e malignas não-invasivas, inclusive maiores do que 20 milímetros, com maior êxito.
O aprimoramento das técnicas terapêuticas tem proporcionado perspectivas mais animadoras para os pacientes com câncer do esôfago e estômago. As taxas de sobrevida de 5 anos, em geral, têm aumentado ao longo das últimas três décadas, a partir de um mínimo de 5% em 1970 para 15% na década de 1990 e 25% na última década. “Esta melhoria, embora modesta, pode, em grande medida, ser atribuída à mudança de paradigma terapêutico em direção à quimioterapia neoadjuvante/radioquimioterapia. Vários estudos randomizados apoiam o uso de quimio e radioterapia préoperatória antes da ressecção do tumor”, destaca Dr. Ribeiro.
PULMÃO
O câncer de pulmão é um dos mais frequentes em todo o mundo, com incidência crescente principalmente entre as mulheres. O principal fator de risco é otabagismo, que responde por cerca de 85% dos casos e está relacionado com vários outros tipos de câncer.
Só para se ter uma ideia, o risco do fumante desenvolver a doença é 20 vezes maior do que o não fumante. Vale ressaltar ainda que o tabagismo passivo, ou seja, de quem convive com o fumante em ambientes fechados já corresponde a terceira causa de óbito evitável nos países desenvolvidos, sendo superado apenas pelo tabagismo ativo e pelo alcoolismo, segundo destaca o livro Prevenção do Câncer, da Sociedade Brasileira de Cancerologia.
Quando diagnosticado em estágio inicial, o tratamento cirúrgico da doença figura como uma opção promissora. “O câncer de pulmão é tratado cirurgicamente nos casos em que a doença está localizada apenas numa parte do pulmão ou em apenas um pulmão. Em outras palavras, quando não se disseminou para outros órgãos (metástases) ou para o outro pulmão, tornando impossível a ressecção completa do tumor”, explica o Dr. Paulo Pêgo, cirurgião torácico do HCor. “O procedimento é bem padronizado e tem baixo risco desde que o paciente tenha boas condições clínicas, boa reserva pulmonar e a doença não esteja muito avançada localmente”, acrescenta.
Nas últimas décadas, houve uma redução de mais de 50% do tabagismo no país, mas mesmo assim o câncer de pulmão ainda desponta no ranking do INCA (Instituto Nacional do Câncer), sendo o terceiro mais incidente entre os homens, com uma projeção de quase 19 mil novos casos este ano, e quarto entre as mulheres, com 12.530 novos casos. Já que apenas 5% dos fumantes conseguem parar sozinhos, vale buscar ajuda para abandonar o cigarro e adotar um estilo de vida mais saudável.
Cerca de 30% dos casos poderiam ser evitados com a adoção de um estilo de vida saudável que exclua fatores de risco
Entre os avanços no combate ao câncer, a imunoterapia, tratamento que ajuda o sistema imunológico a atacar as células cancerígenas, desponta como uma alternativa promissora. “A imunoterapia do câncer com o uso de bloqueadores (anti PD1 e CTLA-4) tem registrado exuberantes resultados em pacientes com melanoma metastático e em outros tipos de câncer como de pulmão, rim, bexiga, cabeça e pescoço, Linfomas de Hodgkin, entre outros”, afirma Dr. Del Giglio. “Outro destaque é a terapia-alvo direcionada com pequenas moléculas que também é muito promissora para câncer de pulmão, melanoma, leucemia mielóide crônica e alguns tipos de tumores gastro-intestinais”, complementa.
Os avanços estão relacionados a desenvolvimentos tecnológicos com equipamentos que permitem detecção de lesões cada vez menores
CABEÇA E PESCOÇO
Dos cânceres da região de cabeça e pescoço, o mais frequente é o de boca. Mas não podemos esquecer o de faringe, laringe, glândulas salivares, seios paranasais e o da glândula tireóide, mais frequente nas mulheres.
A falta de informação é um entrave para o diagnóstico precoce. No Brasil, 70% dos pacientes apresentam estágio avançado da doença. “Um nódulo persistente no pescoço, dificuldades para engolir, lesão na boca que não cicatriza e rouquidão prolongada são alguns dos sinais e sintomas para o câncer de cabeça e pescoço”, elenca Dr. Fábio Roberto Pinto, cirurgião de Cabeça e Pescoço do HCor.
Além dos já conhecidos riscos provocados pelo consumo de bebidas alcoólicas e do cigarro, novos estudos publicados pelo Johns Hopkins Oncology Center, nos Estados Unidos, mostram que o papiloma vírus, o HPV, é um dos fatores que predispõem ao desenvolvimento de cânceres. “Porém, é importante destacar que o HPV, em menor proporção, também protagoniza tumores na laringe e na cavidade bucal, como língua e gengiva”, acrescenta Dr. Marco Aurélio Kulcsar, cirurgião de Cabeça e Pescoço do HCor. “Quando diagnosticado em estágio inicial, a possibilidade de cura pode chegar a 90%”, explica Dr. Kulcsar.
ENTREVISTA
O diagnóstico de doenças oncológicas tem ampliado cada vez mais seu alcance. Para conhecer mais sobre o constante avanço da especialidade, HCor Saúde entrevistou o Dr. Carlos Alberto Buchpiguel, responsável pelo PET-CT HCor.
Quais os principais avanços no diagnóstico de doenças oncológicas?
C.A.B. – Vários avanços poderiam ser citados nas últimas décadas. Mas vale destacar uma nova forma de diagnosticar o câncer que é avaliando a alteração molecular que caracteriza um determinado tipo de tumor. Esse novo conceito de diagnóstico analisa a biologia tumoral e permite avaliar se ele está em plena atividade celular.
As novas tecnologias contribuem nesta evolução?
C.A.B. – Sem dúvida. O equipamento PET-CT é um exemplo de tecnologia enquadrada na imagem molecular. Dependendo do tipo de biomarcador que será utilizado, alguns tipos de câncer são mais detectados e outros não. Por exemplo, ao utilizar o biomarcador da glicose marcada, câncer de pulmão, mama, intestino e linfomas são detectados com elevada sensibilidade. Outro recurso: o tumor pode ainda não apresentar redução significativa de volume à tomografia ou à ressonância magnética, porém o PET pode demonstrar ausência completa de atividade metabólica no tumor, ou seja indicando que não existe mais atividade celular em divisão dentro do tumor.
Em sua avaliação, o avanço da medicina traz perspectivas mais animadoras para o paciente oncológico?
C.A.B. – Com certeza. A aplicação da imagem molecular permite não apenas diagnosticar o tumor sob conceitos mais modernos e inovadores, como também aplicar o mesmo conceito para tratar esses tipos de câncer, principalmente quando as alternativas convencionais falharam em demonstrar controle efetivo da doença. Isso permitirá que mais pacientes vivam mais e melhor com novas alternativas de diagnóstico e tratamento. Contudo, sempre a melhor estratégia é diagnosticar o câncer antes que ele tenha se espalhado para outras partes do organismo.