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Saiba se você está exagerando nos treinos e conheça os riscos

Saiba se você está exagerando nos treinos e conheça os riscos

Especialista comenta as consequências do overtraining para o corpo

Exercícios físicos são bons para a saúde, mas feitos de forma excessiva e sem o devido preparo podem, sim, trazer consequências negativas para a saúde. O E+ conversou com um especialista sobre o overtraining, ou treino em excesso, para saber como é possível reconhecer os exageros na prática de atividades físicas e quais são suas consequências.

A estudante de letras Ana Clara Azevedo passou cerca de oito meses em 2017 treinando para uma competição de atletismo em sua universidade. Seu desejo de competir era tanto que ela ignorou uma dor no joelho que começou a lhe incomodar em certa altura desse período.

“Eu me machuquei, mas como tinha outra competição muito importante pela frente, não falei para ninguém que estava machucada. Eu até reclamei de dor, mas uma dor leve. Coloquei gelo no local e segui a vida”, contou ao E+. A gana por competir acabou tendo consequências: ela machucou o joelho e teve de ficar seis meses afastada de qualquer atividade física.

Rene Abdalla, diretor médico do Instituto do Joelho do Hospital do Coração, explica que é preciso haver um equilíbrio entre a atividade física e o período de repouso. Quando essa relação não é respeitada, há um movimento repetitivo de uma determinada parte do corpo e isso leva ao desgaste.

“Isso é o mais importante. Você tem que ter um certo tempo para a musculatura relaxar de novo e voltar a atuar. Então, o overtraining também está diretamente ligado a uma frequência direta de exercícios”, disse.

Ana Clara sabe que a quantidade de treinamento que ela fazia foi fundamental para que a lesão ocorresse. Contudo, se submeteu à carga excessiva de exercícios em virtude da proximidade da competição.

“Foi uma coisa de muito treino em um espaço muito curto de tempo para um objetivo específico e que não levou em consideração outras coisas como, por exemplo, alimentação ou até mesmo a minha estrutura física, já que eu não era tão forte assim”, fala a estudante.

O médico explica que não há uma quantidade excessiva que possa ser considerada padrão para todas as pessoas: “O excesso é a quantidade de exercícios a mais do que cada pessoa está acostumada. Por isso, deixa de ser overtraining quando a pessoa aumenta o treinamento de forma cadenciada e não bruscamente”.

Rene diz que a orientação e o acompanhamento profissional são fundamentais para evitar lesões.

“O autodidata é o que mais se machuca. Sempre deve haver orientação, principalmente para quem está começando. Nenhum exercício é tão simples. Há a correção do movimento e da postura, além de uma série de fatores, que só o profissional da área, normalmente o educador físico, pode te ajudar”, aconselha.

Exagerar nos treinos pode levar à perda de massa magra, contrariando o que se espera da atividade física. Além disso, o desconforto e a dor causados pelo overtraining farão o atleta ter uma queda no desempenho.

O diretor do Instituto do Joelho diz que o primeiro sinal de que algo não vai bem com o corpo é a dor que não passa em até 48 horas de repouso: “Nesse caso é melhor procurar auxílio médico porque deve ter algum problema mais sério acontecendo”.

Ele fala que a dor geralmente é sinal de alguma lesão ou inflamação mais séria, especialmente nas articulações, que levam a uma paralisação total da atividade física para recuperação da parte do corpo lesionada.

“As lesões são maiores naqueles que percebem a longo prazo: tendinite, amolecimento da cartilagem do joelho, artrose, etc. Tudo isso é intensificado com a teimosia de quem está insistindo num treino mais forte do que é capaz”, reforça o especialista.

Ana Clara começou a sentir dores em setembro do ano passado, mas continuou o treinamento porque a competição era em outubro e somente em novembro é que as dores se intensificaram a ponto de ela parar os treinamentos. A insistência acabou resultando num derramamento do líquido sinovial, que a deixou aproximadamente seis meses afastada dos treinos e de qualquer atividade física de impacto.

“Foi bem limitador por um tempo. Era muito dolorido subir escada, então eu ia bem devagar. Além disso, quando eu ficava muito tempo sentada, na hora de levantar eu sempre dava um primeiro passo em falso. Correr, então, nem pensar”, conta a estudante.

Rene diz que o tratamento geralmente envolve um período de repouso, aplicação de gelo no local lesionado, prescrição de medicação anti-inflamatória e fisioterapia. “E o que é mais importante: quando voltar a se exercitar, deve ser feito com uma orientação melhor”, completa.

Ana Clara já planeja seguir esse conselho: “Esse ano com certeza não voltarei a treinar porque senão eu cometeria o mesmo erro do ano passado que é começar a treinar muito perto da competição. Se eu voltasse, seria em julho. Sendo a competição em outubro, eu teria três meses para me preparar. Esse período para quem ficou seis meses parada é muita coisa. Pretendo voltar de uma forma menos intensa”.

Fonte: E+ Estadão