Diagnóstico precoce é chave para sucesso no tratamento da endometriose
Doença, que afeta cerca de 176 milhões de mulheres no mundo, interfere no bem-estar da paciente, provocando dores, inflamações e infertilidade
Apesar de sua alta incidência – acomete uma em cada dez pacientes em fase reprodutiva – a endometriose ainda é uma doença diagnosticada tardiamente. Disseminar informações sobre o assunto continua sendo um dos maiores desafios dos ginecologistas. Ensinar a mulher a identificar os primeiros sinais da doença, se possível ainda na adolescência, e adotar questionamentos mais específicos nas consultas de rotina são algumas iniciativas para tentar identificar precocemente o problema.
No período fértil, o organismo prepara o útero para receber a gestação, o que só é possível devido à ação dos hormônios estrogênio e progesterona. Quando não ocorre a gravidez, há uma descamação da camada interna do útero, o endométrio, resultando na menstruação. Não se sabe exatamente o porquê, mas esse tecido pode seguir em outras direções e se instalar principalmente nos ovários e tubas uterinas, peritônio (tecido que recobre os órgãos da cavidade abdominal), ligamentos que dão sustentação ao útero, espaço entre o reto e a vagina e miométrio (camada muscular do útero).
Cólicas menstruais e incômodo na relação sexual sinalizam a endometriose. “Tratam-se de dores que evoluem de forma progressiva, aumentando a cada ciclo, a cada relação, tornando-se intoleráveis e exigindo cada vez mais medicamentos para o alívio da dor”, explica o ginecologista do HCor Dr. Celso Luiz Borrelli.
O risco para a endometriose pode ser maior em mulheres cujas mãe e irmãs sofreram do mal, sugerindo fatores genéticos envolvidos. Outras pesquisas indicam problemas imunológicos que reduziriam as defesas do organismo e facilitariam o crescimento do endométrio em outros órgãos. Mas há um perfil comum entre mulheres com o problema: são bem ativas, ansiosas, com atividade profissional intensa, que mesmo com dor, continuam com suas rotinas – o que explica por que a endometriose é chamada de doença da mulher moderna.
Apesar de negligenciados, o sangue na urina ou nas fezes durante a menstruação com forte dor abdominal também é sintoma da doença, só que em estágio avançado, com comprometimento do intestino ou bexiga. Como está sob a ação dos hormônios, esse endométrio, mesmo fora do útero, continua se multiplicando, sangrando e provocando dor na menstruação, por isso o sangue é expelido pelo reto ou pela bexiga.
Diagnóstico e tratamentos
Além das queixas da paciente, há outras formas de detecção da endometriose, como exame clínico, por meio do toque vaginal, realizado por um profissional experiente e considerado de grande valia. “Mas os exames de imagem, como ultrassom transvaginal (com preparo intestinal) e a ressonância magnética são fundamentais”, afirma o ginecologista. Outro exame a ser solicitado é o de dosagem sanguínea do marcador Ca125, feito no início do ciclo menstrual.
A endometriose é classificada segundo a sua severidade e seu comprometimento. Os médicos identificam a versão superficial, quando o peritônio e a superfície de órgão pélvicos, como útero, ovário, tubas e bexigas são acometidos, produzindo poucos sintomas de dor, mas que pode resultar em infertilidade. Na versão profunda, o intestino e a bexiga são comprometidos, e camadas internas desses órgãos são afetadas, causando dor mais intensa e incapacitante, bem como sangramentos nas fezes e na urina. Há a endometriose interna, localizada na camada muscular do útero, e chamada de Adenomiose, responsável por fortes cólicas na menstruação.
Estima-se que entre 30% e 50% das mulheres com endometriose não consigam engravidar. Segundo o Dr. Giuliano Borrelli, também ginecologista do HCor, a dificuldade na gestação é multifatorial: pode estar relacionada a problemas funcionais provocados pela doença (quando envolve os ovários), mecânicos (obstruções das trompas), além de fatores imunológicos.
A boa notícia é que, com o avanço das pesquisas e a melhora progressiva da qualidade dos exames, a endometriose pode ser diagnosticada e tratada precocemente. As cirurgias laparoscópicas, por exemplo, são eficazes em casos de endometriose superficial e nos ovários – onde é feita uma pequena incisão no ovário para retirada da cápsula de sangue formada no local. Para tratar as endometrioses profundas recorre-se a cirurgias mais complexas, envolvendo equipe multiprofissional. Em casos de infertilidade, há opções oferecidas pelas técnicas de fertilização assistida que são bem-sucedidas e permitem às mulheres engravidar.
Há ainda o tratamento hormonal, uso de pílulas anticoncepcionais que impedem a menstruação. Mais recentemente foi lançado um método específico, somente à base de progesterona, com ação nesses focos de endometriose, que tem mostrado redução da doença. Já nas lesões superficiais causadas pelo endométrio, o processo de cauterização desses focos no peritônio pode ser uma alternativa.